O Centro de Triagem e Recuperação de Animais Silvestres
de São Paulo, localizado no Parque Ecológico do Tietê, recebeu entre janeiro e
outubro deste ano 6.770 animais vindos de apreensões, resgates e entregas
espontâneas. Dos animais reabilitados, 74,5% já foram devolvidos à natureza e
25,5%, entregues a instituições de apoio.
Por ano, são cerca de 10 mil animais que passam pelo Cetras-SP, entre
aves, mamíferos e répteis. As aves representam 80% desses animais.
Recentemente, o centro
recebeu 163 aves procedentes do tráfico de animais, entre elas
filhotes de araras-canindé, vermelha e azul, espécies ameaçadas de extinção. Os
animais estavam no porta-malas de um veículo, em condições precárias, em caixas
improvisadas de papelão e madeira e passarão por um período de reabilitação
para depois serem devolvidos à natureza.
Para acelerar o processo de reabilitação, uma das técnicas adotadas pelo Cetras é o implante de penas. A prática é antiga e pouco difundida no Brasil, voltada principalmente para aves de rapina, como, por exemplo, as corujas. Outros grupos também têm tido resultados positivos, como as Psittaciformes (papagaios, periquitos, araras) e Piciformes (tucanos e pica-paus).
A diretora do Cetras-SP, Sayuri Fitorra, explica que muitas
aves chegam com as penas cortadas, prática muito comum em animais criados em
cativeiro para que não consigam voar, ou aves que tiveram as penas danificadas
por causa de acidentes com linhas de pipa e armadilhas com cola para roedores.
Por isso, o implante de penas ajuda a acelerar o processo
de reabilitação do animal. “Então imagina um papagaio que viveu 20 anos com as
penas cortadas. Eu teria que esperar no mínimo um ano para conseguir colocar
ele no recinto para começar a treinar a musculatura de voo. Com o implante, ele
vai para o recinto de treinamento de voo no mesmo dia”, afirma.
A bióloga explica ainda que o processo é indolor e dura de 10 a 30
minutos. O procedimento já foi aplicado em mais de 110 indivíduos de 19
diferentes espécies e consiste na inserção de uma nova pena através de uma
haste, leve e flexível, na base da que foi perdida. A ave é anestesiada, para
evitar que fique se debatendo, e podem ser inseridas de 4 a 40 penas.
Em junho, o Cetras-SP recebeu um papagaio, da espécie
Amazona aestiva, macho e adulto, com as rêmiges primárias e secundárias das
duas asas mutiladas (penas cortadas). Ele foi apreendido em um cativeiro
irregular na Zona Leste de São Paulo. Em 26 minutos, os biólogos conseguiram
fazer o implante de 24 penas de voo e no mesmo dia, o pássaro já arriscou a dar
os primeiros voos.
Mas Sayuri Fitorra alerta: ele ainda não poderá ser
solto, precisa continuar o processo de reabilitação. “Como ele viveu muitos
anos impossibilitado de voar, ele precisa treinar o voo, fortalecer a
musculatura e avaliarmos a aceitação do implante”, afirma.
Há 15 anos, o Centro mantém um banco de penas com
rêmiges (penas de voo, longas e resistentes) primárias e secundárias de 430
indivíduos de 68 diferentes espécies. O material é coletado de carcaças que são
higienizadas, organizadas e identificadas por tamanho, coloração e origem, entre
outros aspectos.
Cetras-SP
Quem passa pelo Parque Ecológico do Tietê, na Zona
Leste de São Paulo, às vezes nem imagina que dentro dele funciona um importante
centro de triagem e recuperação de animais silvestres. Atualmente, ele é o
único núcleo estadual da Coordenadoria de Fauna Silvestre/Semil que realiza
esse trabalho.
O objetivo do Cetras-SP é reabilitar esses animais para que
possam ser devolvidos à natureza. O centro recebe indivíduos apreendidos pela
Polícia Militar Ambiental, pelas fiscalizações do Ibama, Polícia Civil,
Municipal e Federal. Além dos resgatados vítimas de acidentes, pelas
Prefeituras, Corpo de Bombeiros, Parques Urbanos e também aqueles que foram
entregues de maneira voluntária.
Todos os animais passam por avaliação clínica, biológica
e exames para definição do melhor tratamento e ingresso no processo de
reabilitação, que envolvem estímulos e correção física, nutricional e
comportamental. A taxa dos animais devolvidos para a natureza chega a ser de
74%. Os indivíduos que não conseguem se adequar são encaminhados para
zoológicos e outros empreendimentos.