O lobo-guará, escolhido para ilustrar a nova cédula de R$
200, está entre as 1.173 espécies da fauna ameaçadas de extinção. A estimativa
é que no Brasil vivam cerca de 24 mil lobos-guará, com maior concentração no
Cerrado. Eles podem ser encontrados ainda, em menor número, na Mata Atlântica,
no Pantanal e no Pampa.
A espécie sofre com a degradação do meio ambiente, avanço
desordenado de atividades humanas sobre o Cerrado e centros urbanos, o que leva
à perda de habitats. Também é afetada pelo aumento da caça, por atropelamentos
e disseminação de doenças a partir do contato com cães domésticos.
“O lobo-guará é talvez a espécie mais icônica do bioma
Cerrado. É um animal sempre associado à imagem dos vastos campos e savanas
permeados pelas belíssimas veredas que compõem as paisagens especiais do Brasil
central. É muito importante associarmos nosso patrimônio natural a símbolos de
valor, mas isso precisa vir associado à consciência de que para sobreviverem
necessitam que seu habitat natural esteja preservado”, destaca Reuber Brandão,
membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professor
associado da Universidade de Brasília.
O lobo-guará figura na lista de espécies ameaçadas do Portal
da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, na categoria de vulnerável, e
depende da preservação de seus ambientes naturais para continuar existindo.
Segundo a RECN, estima-se que cerca da metade da área
original do Cerrado já tenha sido destruída. Incêndios florestais, obras de
infraestrutura para energia hidrelétrica e demanda por carvão vegetal para a
indústria siderúrgica também ameaçam o bioma.
“Precisamos entender que existe diferença entre valor e
grandeza. Apesar da escolha da espécie para ilustrar as novas cédulas de real
ser positiva, o valor destes organismos e da natureza brasileira é imensamente
superior ao valor nominal do dinheiro. Nesse caso, a grandeza se traduz por
meio de medidas efetivas pela proteção do patrimônio natural imenso,
insubstituível e único. É atribuir valor à conservação da biodiversidade, do
bioma Cerrado, das Unidades de Conservação de Proteção Integral e ao icônico e
elegante lobo-guará”, avalia Brandão.
Lobo-guará
Elegante e discreto, o lobo-guará (chrysocyon brachyurus) é
o maior canídeo silvestre da América do Sul. Ele pode atingir até um metro de
altura e pesar 30 quilos. Sua pelagem laranja avermelhada, além da beleza, lhe
confere alguns apelidos, como lobo-de-crina e lobo-vermelho. Sua gestação dura
pouco mais de dois meses, com média de dois filhotes. Livre na natureza, vive
cerca de 15 anos. Além do Brasil, é encontrado na Argentina, Bolívia, Paraguai,
Peru e Uruguai.
Segundo a RECN, o lobo-guará tem comportamento discreto,
solitário e pouco ofensivo, preferindo se manter distante dos humanos.
Geralmente, pode se alimentar de animais de grande porte, como os veados
campeiros, ou pequeno porte, como roedores, tatus e perdizes, além de frutos
típicos do Cerrado, como o araticum (Annona crassiflora) e a lobeira (Solanum
lycocarpum), também atuando como importante dispersor de sementes.
Cédulas
O lobo-guará ficou em terceiro lugar em uma pesquisa realizada
pelo Banco Central (BC) sobre quais animais em extinção deveriam ser
representadas em novas cédulas.
Segundo o BC, a imagem da nota de R$ 200 ainda não está
disponível porque está na fase final de testes de impressão. O lançamento está
previsto para o final de agosto deste ano.
A tiragem em 2020 será de 450 milhões de unidades,
equivalentes a R$ 90 bilhões