A Fraternidade Descendência Americana-FDA, de Santa Bárbara d’Oeste, realiza no dia 28 deste mês a sua tradicional Festa Confederada no Cemitério do Campo, que fica na área rural do município. A expectativa, segundo o presidente da FDA, João Leopoldo Padoveze, é receber mais de 3 mil pessoas, a exemplo do ano passado. “É muito gratificante, para nós, estar conseguindo fazer uma festa cultural que atrai um grande número de pessoas. Vem gente de várias partes do Brasil, dos Estados Unidos, da Holanda”, afirmou.
A FDA realiza a Festa Confederada desde 1986 para manter viva a memória dos seus ancestrais. “Temos trabalhado para que o evento seja cada vez mais confortável para os visitantes. Por ser um local um pouco mais remoto, conseguimos achar um modelo de festa que comporte todos. É um grande piquenique onde todos podem se divertir e comer na praça de alimentação onde tem várias comidas típicas dos Estados Unidos”, disse o presidente.
A Festa terá início às 10h e seguirá até às 17h com
programação musical e apresentações de danças típicas americanas. A entrada
custa R$ 20,00 e R$ 10 (meia). Crianças até 12 anos acompanhadas de um
responsável não pagam. Na praça de alimentação os visitantes vão encontrar
frango frito, bisque, hambúrguer, batata frita, cachorro quente, prato confederado
(pernil de porco ao molho barbecue), e
outras opções, além de chopp e refrigerante. Entre as atrações: Folkidance Group, Russo Jazz Band, Texas Flood, Soul Blues e The New Drunks
A exemplo do ano passado, movimentos sociais de Santa Bárbara e Americana, estão organizando uma manifestação para o dia da Festa Confederada, protestando contra o símbolo confederado. O presidente da FDA, João Leopoldo, disse que o assunto é delicado. “É direito de todos se manifestarem. Eu gostaria de, ao invés de manifestações, tivesse mais diálogo. A FDA sempre foi aberta ao diálogo e a conversar sobre todos os assuntos. Temos uma riqueza de cultura em Santa Bárbara d’ Oeste e podíamos confraternizar e todo mundo celebrar juntos. Mas, se não é o caso, paciência. Espero que corra tudo bem”, afirmou.
MANIFESTO:
A Unegro-União dos Negros e Negras pela Igualdade e movimentos sociais organizados de Americana e Santa Bárbara D’ Oeste lançaram um manifesto nesta quarta-feira (03) contra os símbolos confederados e repudiando a Festa Confederada. Segundo os movimentos, a festa ignora a história dos povos aqui constituídos e a problemática racial que ainda incide sobre a população brasileira. “Reiteramos que não compactuamos com uma festa que ostenta símbolos que enaltecem a supremacia branca e carregam um legado de dor para o povo negro”, afirmam, lembrando que o Brasil foi um dos últimos países da América a abolir a escravidão.
Além da Unegro/Americana, assinam o manifesto a Comissão de Promoção da Ighualdade Racial de Americana, a Associação de Capoeira Motta e Cultura Afro, Coletivo Dança Afro e Expressões e Câmara Cultura Popular e Urbana. A Festa Confederada, segundo o manifesto, cultua símbolos que agridem a trajetória do povo negro no Brasil. “Os monumentos confederados tão polêmicos nos EUA, aqui na cidade de Santa Bárbara – a única cidade do Brasil a realizar a festa dos confederados e com patrocínio do poder público e municipal e inserida no calendário do Estado de São Paulo tem sido questionados. Lamentavelmente a cidade de Santa Bárbara abriga uma festa sustentada em narrativas romantizadas da história. Pois é sabido que a principal causa da Guerra Civil dos EUA (1861 -1865) foi manter a escravidão”, citam no manifesto.
Segundo os movimentos sociais, “Santa Barbara D’ Oeste, única cidade brasileira a manter as tradições e a carga de opressão representadas pela bandeira dos confederados, caminha a contrapelo da história e demonstra a falta de dimensão histórica e indiferença com a trajetória do outro”.
No ano passado o Movimento Negro de Americana, representado por alguns coletivos como Unegro e Grito dos Excluídos, fizeram um ato pacífico no entorno da Festa dos Confederados e ouviram - como relatam- frases racistas e bastantes surradas que há tempo não ouviam. "Não revidamos aos ataques verbais sofridos, simplesmente continuamos a nossa roda de conversa sob os olhares de curiosidades e alguns de indiferença". Este ano o ato pacífico de protesto deve será repetido.
“Não somos contra as manifestações culturais, somos favoráveis à necessidade de rememorar a trajetória dos antepassados, da mesma forma que os africanos usaram e usam a simbologia dos que os antecederam, para saber suas origens e ver sua comunidade como parte de um único sistema interligado e manter o sentimento de pertencimento, porém a simbologia não pode agredir o outro. Assim como escreveu Ana Maria Gonçalves: “Nenhum problema que os descendentes de confederados brasileiros queiram continuar reverenciando seus antepassados, mas que o façam com a verdade, em respeito à história e aos descendentes de escravizados”. Os movimentos que assinam o manifesto pedem o empenho do poder legislativo e em todas as esferas públicas para proibição do uso de símbolos confederados em território brasileiro", cita ainda o manifesto.
(Foto: Reprodução/FDA)