O eleitor, o eleito e o ódio

Por Dirceu Cardoso Gonçalves 18/06/2014

Nesse período que antecede a campanha eleitoral propriamente dita - que começa a 5 de julho - os ex-presidentes Lula e FHC discutem sobre corrupção, proselitismo e acusam-se mutuamente de espalhar o ódio. Expoentes da política nacional, esses dois senhores não devem se esquecer que cada um deles governou este país por oito anos e que, direta ou indiretamente, ambos têm responsabilidade pelo ambiente que hoje vivemos. Já que não serão candidatos neste 5 de outubro, melhor seria que contivessem seus ânimos, mantendo-se acima das campanhas e emprestando seu peso político-institucional para o aperfeiçoamento do processo e a melhora da representatividade das eleições.

Infelizmente, o eleitorado brasileiro não tem identificação com os candidatos eleitos. A maioria só comparece às urnas porque é obrigatório e, algum tempo depois de votar, não se lembra mais em quem votou. Esse divórcio entre eleitor e eleito atinge a todos e tumultua a vida nacional, facilitando o surgimento de forças paralelas, movimentações agressivas e tensões sociais. FHC e Lula fariam melhor se, em vez de cabos eleitorais, pudessem ser catalizadores de um processo de fortalecimento do processo eleitoral e do relacionamento dos políticos com o eleitorado, deixando o embate e a disputa para os candidatos.

A democracia brasileira carece de meios para sua sustentação. Não basta ter eleição a cada quatro anos. É preciso que dela saiam governantes e parlamentares comprometidos com o país e a causa pública, identificados com o povo e por este reconhecidos como seus representantes. Isso não tem ocorrido e, para desencanto nacional, a vida pública tem sido permeada de atos de corrupção e inconformidades que mancham perante o povo a imagem da classe política que, para o bem do país, deveria ser preservada e respeitada. São os bons políticos que trabalham para o bem estar do povo e o desenvolvimento nacional.

Temos de lembrar que, no dia seguinte às eleições, o Brasil estará aí com todos os problemas a resolver. Seria um desperdício gastar todas as forças numa campanha. Essa tarefa deve ser dos candidatos, para convencer o eleitorado. Mais importante até do que ganhar e eleição é criar condições para que os eleitos assumam seus postos como reais representantes do povo. Esse é um digno trabalho suprapartidário que os ex-presidentes deveriam executar. Para o bem e a regularidade do país, suas figuras deveriam ser mantidas e respeitadas acima da disputa eleitoral. Eles já deram seu trabalho e contribuição ao país e deveriam, agora, ser preservados como elementos de equilíbrio; jamais transformados em garotos-propaganda ou gurus de candidatos ou grupos...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)