Enchentes em Santa Bárbara d' Oeste

Por Por Prof. Gilson Alberto Novaes * 07/02/2025

Estou na vida pública de minha cidade, há mais de 50 anos e confesso que nunca vi o nosso Ribeirão dos Toledos transbordar tanto como nos últimos dias!

O assunto “represas”, ligado diretamente a “enchentes”, tem tomado a atenção dos prefeitos desde muito tempo. Vou escrever a partir de onde minha memória alcança!

Antes disso! Não podemos culpar o prefeito atual pelas enchentes de agora! Nem seus antecessores, pois todos buscaram resolver o problema de represamento para nossa boa água, bem como seu tratamento, sua distribuição à população e acima de tudo, não permitindo que ela pudesse nos trazer tantos problemas com as enchentes.

Ao que vemos, as tentativas têm sido em vão! Lembro-me de quando assumi a cadeira de Vereador e em seguida o cargo de Secretário de Governo do Prefeito Zé Maria – 1983-1988, no seu primeiro dia de mandato a Prefeitura teve que socorrer as vítimas de uma enchente. Seus sucessores tiveram o mesmo problema, sempre no início de cada ano!

Minha memória começa com o Prefeito Braulio Pio, que governou a cidade de 1969 a 1973, e que logo no início de seu mandato procurou o Governo do Estado para buscar solução. 

 Abreu Sodré era o Governador do Estado, e através do Deputado Federal Henrique Turner, iniciaram-se as tratativas para se construir uma barragem, onde hoje temos a “pedreira”, aquele espaço cortado pela SP-304, que à época estava sendo construída pela Engenharia Badra, e que também faria a obra da sonhada barragem, prevista para ser concluída em julho de 1970.  

A represa não saiu! Não sabemos as razões! O sonho era que ela servisse, não só para represar água, mas pela sua abrangência territorial, pudesse ser algo parecido com a Praia dos Namorados em Americana, que na época era um belo ponto turístico regional. Além disso, corrigiria o traçado do então Ribeirão dos Toledos, permitindo controlar a vazão da água com comportas, indispensáveis numa represa. Estou falando de uma época em que tudo era muito diferente! A cidade tinha pouco mais de 30 mil habitantes.

Como disse, tantos outros prefeitos sucederam a Bráulio Pio. Alguns se preocuparam em distribuir a rede de água e esgoto, pois a cidade crescia rapidamente na região leste da cidade e necessitava de água. Outros se preocuparam com o tratamento, outros em ampliar a represa existente, outros em construir novas represas! Todos trabalharam, sem dúvida!

Aquela represa pensada há 50 anos não saiu do papel, mas outras surgiram. Perguntas que ficam: 1) teriam sido as represas construídas nos locais adequados? 2) as represas têm sido desassoreadas devidamente para que sua capacidade de represamento não se diminua? 3) as nossas represas possuem comportas? Perguntas de leigos, mas de pessoas que sofreram e sofrem com esse fantasma anual. 

Ao olharmos para essas mais de duzentas famílias que perderam tudo ou quase tudo, só temos a lamentar e agradecer a Deus por não termos tido nenhuma vítima fatal. Quanto aos bens, nossa gente é solidária e as necessidades básicas deles estão sendo atendidas dentro do possível! 

Fica para nosso povo, a tristeza de ver nossos conterrâneos que saíram para trabalhar e voltaram para casa com a água pela cintura. O colchão em que dormiram na noite anterior, no dia seguinte, todo coberto pelo barro e sendo despejado por uma carregadeira em um caminhão, como um lixo descartável. 

É triste! Que daqui a 50 anos, ninguém mais escreva algo parecido. Que Deus nos ajude!


* (Gilson Alberto Novaes é Professor Universitário. Foi Vereador por 3 legislaturas e presidiu a Câmara Municipal de 1977 a 1978. Foi Secretário Municipal em 3 administrações. É Mestre em Comunicação Social e  Doutor em Educação, Arte e História da Cultura)