A salvação das Santas Casas

12/06/2015

O novo provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, dr. José Luiz Setúbal, assume o posto num momento de crise aguda, mas com uma proposta que, pelo menos aparentemente, poderá ser a salvação da maioria dos hospitais filantrópicos brasileiros, todos em dificuldades e, também, a equação dos problemas vividos pelo sistema privado de saúde.

Vai enxugar o quadro de funcionários e aumentar a prestação de serviços aos planos de saúde e até ao atendimento privado sem diminuir a carga de atendimento ao SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje representa 95% da receita da instituição. Para tanto aproveitará dois hospitais privados que a Santa Casa já possui e hoje apresentam baixa taxa de ocupação.

Se conseguir, continuará atendendo aos pacientes gratuitos, custeados pelas verbas públicas - consideradas insuficientes - e ainda colocará serviços à disposição dos planos e sistemas particulares e empresariais de saúde que, mesmo pagando, não dispõem hoje de estrutura para atender a demanda de toda sua clientela.

Atender o paciente público e gratuito como missão social e ao mesmo tempo produzir recursos privados para garantir a manutenção e sobrevivência da estrutura é uma tarefa complexa, mas não impossível. O lucro do serviço particular é aplicado no social, sem qualquer problema, pois a instituição é filantrópica, prestadora de serviço social, sem fins lucrativos. Se empatar receitas e despesas, estará resolvida a questão.

Temos de entender que as Santas Casas vêm de uma outra época, onde o povo era desvalido e a sociedade paternalista. Quem tinha recursos e bens era chamado a socorrer quem não tinha. Com a industrialização, globalização, urbanização das populações (antes rurais), tudo mudou. O tipo de atendimento médico-hospitalar também é outro e tem elevados custos decorrentes do aporte de ciência e tecnologia.

Vivemos numa época em que não existem mais os endinheirados capazes de sustentar alta filantropia e nem os coitadinhos de antigamente que, se não fossem atendidos por um sistema assim, morreriam à mingua. Hoje existe uma economia ativa onde todos têm seu papel e o governo, arrecadador de impostos, assumiu a tarefa de atendimento social.

Há muito o que se fazer para salvar as Santas Casas. Governantes, parlamentares, burocratas de alto escalão e todos os interessados, precisam entender que ficará muito mais barato buscar alternativas para os hospitais filantrópicos, que já existem, do que deixar tudo se acabar e começar uma nova estrutura. Há que se corrigir distorções, combater a corrupção e o lucro desmedido de alguns e manter funcionando as instituições. É possível que o dr. Setúbal tenha descoberto o novo e utilíssimo ovo de Colombo...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 

aspomilpm@terra.com.br      

 

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