A farsa da escola de tempo integral

Por Carlos Giannazi 15/09/2017

O governo tucano tem sido, ao longo dos anos, um grande artista farsesco na área da educação. Desde a divisão da escola em dois ciclos, coisa de vinte anos atrás, passando pela compra de cinco mil antenas parabólicas, que foram pagas e nunca entregues às escolas, até a propaganda enganosa da escola de tempo integral. São craques nisso. Anunciam com espetaculosidade e, na proporção inversa, desconversam. Oferecem com uma mão e sonegam com muitas mãos.

Assim é a chamada ETI \" Escola de Tempo Integral (não confundir com o Programa de Escola Integral (PEI), este uma tentativa de criar ilhas de excelência para a divulgação cênica). Não somos contrários à verdadeira escola em tempo integral, mas sim à esta farsa encenada pelos tucanos. Desde 2006, as escolas de tempo integral vivem uma única integralidade: a carência de tudo. Oferecem um mundo novo, uma nova escola, alunos em tempo dobrado na escola, mais atividades, mil recursos, mais servidores, prédios impecáveis. Eis que no acordar com a realidade batendo no calcanhar nada disso existe. Trata-se, infelizmente, para quem sonha com o aluno mais tempo na escola e com mais facilidades de aprendizagem, com recursos modernos e presença de professores preparados e diferenciados, nada mais do que \"mais do mesmo\": menos recursos, menos servidores, menos investimento, menos alunos. Tudo de menos onde deveria ser tudo de mais. O único mais é a preocupação que a gestão da escola e a comunidade têm com os tantos menos que vivem. Comecemos pelo \"menos alunos\". A opção por escola de tempo integral obriga a comunidade a se desvencilhar de um contingente enorme de alunos, pois não cabem todos no projeto. Os alunos do curso noturno, por exemplo, são deportados sabe-se lá para onde. Os excedentes do curso diurno também. Convenhamos, de cerca de 800/900 alunos passar para cerca de 200 é uma economia brutal para um estado que vê investimento em educação como despesas e gastos. O que vai acontecer com quem perder a vaga na escola optante não é problema da administração da educação paulista. Bem ao gosto do atual secretário que já escreveu na grande imprensa sobre o suposto paternalismo gigante do estado, propondo escancaradamente sua diminuição.

Vejamos o \"menos recursos humanos\". Tem uma pegadinha embutida na opção pela escola de tempo integral que só se fica sabendo quando ocorre uma adequação dos módulos de servidores para trabalhar na escola: os alunos, mesmo ocupando dois turnos, são contados uma única vez e a perda de agentes de organização escolar e de outros servidores do quadro de suporte (vice-diretor, professor mediador, etc) é grave. Uma rasteira bem dada, coisa de craque.

A mesma coisa acontece com as atividades a serem realizadas no contra-turno (ou qualquer nome que se queira dar ao segundo turno do tempo integral): com a falta de material e de recursos econômicos disponibilizados reina o improviso, a cobertura acelerada, atividades com pobreza de material, em meio a quase inexistência de recursos pedagógicos. Veja-se, por exemplo: com a última diminuição acentuada de professores orientadores de sala de leitura é quase invisível a existência desse recurso fundamental nas escolas de tempo integral. O que se salva é a custo do esforço da comunidade, de recursos levantados forçadamente pela APM, pela contratação emergencial de professores precarizados no regime conhecido como categoria 0.

Tudo isto sem falar muito sobre o processo extremamente autoritário de ampliação do número de escolas de tempo integral: de baixo para cima, sem tempo para reflexão, sem transparência nas informações, com assédio autoritário das diretorias de ensino - que servem muito bem, sem se incomodarem, como canal de passagem das decisões tomadas centralizadamente pela burocracia econômica da SEE.

Eis aí, ainda que sucintamente, uma fotografia sem retoques do que se conhece por ETI - escolas de Tempo Integral. Estamos muito longe de vermos nossa educação ser tratada com respeito, com dignidade, com participação nas decisões, com aportes de investimentos.

Com a palavra a burocracia da Secretaria Estadual de Educação.

Carlos Giannazi é deputado estadual pelo PSOL